Linha de retorno

Fio… O meu cordão umbilical tecido vezes sem conta

O fio forjou a minha identidade artística. Ele é o guia, a ligação e a continuidade. Tal um cordão umbilical, o fio tece o caminho entre o « aqui » e o « là », entre o agora e o ontem, entre mim e « elas ». Atribuído ao trabalho doméstico, este médium tão praticado pelas mulheres da minha família, impôs-se-me como meio de expressão para questionar temáticas de identidade, de memória e de desenraizamento. O fio é simultaneamente transmissão e transgressão. A utilização do fio numa transcendência dos limites tradicionais do artesanato, permite-me desenvolver uma obra híbrida, tingida de ambiguidade, que tenta sondar a complexidade da experiência humana assim como as fragilidades da nossa sociedade.

A forte materialidade do têxtil, o seu potencial estético e sensorial, dão origem a obras fisicamente envolventes que trazem na sua própria estrutura a marca do corpo. Corpo e paisagem são assim as bases duma linguagem alegórica onde se cruzam as noções de privado e de coletivo.

A delicadeza do desenho, a resiliência do papel, as suas transparências, as suas espessuras, a sua flexibilidade e as suas tensões criam um mundo de intimidade, cheio de força e de fragilidade.

« Desenho, apago, pinto, escondo, costuro, corto, « re-costuro »… ». Tal como num palimpsesto, sobram os fragmentos de histórias, imagens parciais do território invisível das emoções.